terça-feira, 18 de outubro de 2011

Dialogue

– Pára de esconder.
– O quê?
– O que tens vindo a esconder.
– Não estou a esconder nada!
Os seus olhos estavam muito sérios. Mas depressa se adoçaram com o olhar perplexo da rapariga.
– Estás a fazer aquilo de novo…
– O quê? – perguntou ele, soltando uma leve gargalhada.
– A fazer esse olhar…e esse sorriso.
– Sabes o efeito que sempre causaste em mim.
– Sei. Sempre soube.
– Mas continuas a esconder…
– O quê?!
– O que sentes. O que sempre sentiste.
– Arrependo-me todos os dias…deverias saber.
– Não tive outra opção a não ser seguir em frente…
A cara dela ia se tornando cada vez mais triste. Com as lágrimas já nos olhos, suspirou – Eu nunca te larguei. Nunca te deixei partir de verdade.
Ele manteve-se calado. O seu sorriso foi se apagando com as palavras da rapariga e os seus olhos tornaram-se amargurados.
Ela insistiu uma última vez – É demasiado tarde, não é? – uma lágrima derramou pela sua face.

quinta-feira, 6 de outubro de 2011

Loser game


Os trunfos terminaram.
Andava, novamente, viciado naquele jogo infernal há meses e só tinha obtido um resultado, a derrota. A primeira era, claro, inevitável. Já sabia o que esperar quando entrara no jogo, apesar de haver um pouco de esperança de que a sorte sorrisse. Completa e absurdamente errado.
O simples pensamento de voltar a outro jogo era insuportável. Mas as regras parecem ter mudado inesperadamente. O jogo ficou de alguma forma apelativo, e, apesar de estupidamente iludido, estaria a jogar mais depressa do que esperara. Mas o maior erro de todos foi cometido, erro esse que já deveria ser bem mais do que tido em conta pelas tão repetidas derrotas com base nele, a plena e cega confiança no fado. O trunfo que pensara ter perdeu-se no caminho. O jogo estava perdido.
Agora nada resta para jogar, além da fé de que as regras mudem o suficiente para apelar a nova aposta. Ou que a vontade algum dia renasça.