Segredos.
Todos nós os temos. E cada um é guardado com todo o cuidado, seja pelo medo das
consequências caso este corra pelas bocas do mundo, ou pela vergonha e embaraço
que ele nos possa trazer se os nossos amigos o descobrirem, ou pelo descontrolo
que os rumores tendem a tomar, pois todos sabemos que o ditado “quem conta um conto acrescenta um ponto”
tem algum fundamento. Seja qual for a razão, mantemos certas coisas apenas para
nós, pois, por vezes, o simples pensamento do segredo se tornar
público, e passar de segredo a conhecimento comum, nos assusta terrivelmente
porque, por inúmeras situações que ocorram na nossa mente, é sempre a reacção
mais inesperada que temos de confrontar na realidade.
E
quem é que não tende a pensar que o inesperado é usualmente algo negativo?
Por
este motivo guardamo-los para nós, tentando proteger-nos e pensando que algumas
verdades inconvenientes devem ser guardadas e substituídas por mentiras um
pouco mais convenientes, forçando-nos a acreditar que é o melhor para todos os
envolvidos.
Talvez
este pensamento seja apenas mais uma mentira, que contamos a nós próprios para podermos
aliviar o fardo de carregar aquele segredo. Mas todos conhecemos o outro
ditado, certo? “A verdade vem sempre ao
de cima”? Quiçá o segredo se mantenha sempre assim, segredo, se não o confiarmos a alguém. Mas alguns são demasiado penosos
para os carregarmos sozinhos e, é então que, entra mais alguém, um confidente,
um amigo que nos ouve e aconselha. O problema é que este passa a ter um segredo
que, contudo, nos pertence, mas que lhe largámos nas mãos, por vezes quase como
uma bomba. Aqui começa a grande prova, a da confiança. E quando o outro falha
em concretizar a prova com sucesso, e deixa a bomba explodir, vemos o nosso
segredo voar rapidamente pelo povo.
É
então que as consequências que tentámos evitar ao guardar o tal segredo nos
caiem em cima. E com uma força tremendamente duplicada. O pequenino inconveniente
dos segredos é que, quando descobertos, raramente o são pela pessoa mais
indicada, causando estragos bem maiores do que os esperados.
Esforçamo-nos
tanto para manter a realidade inconveniente fora da vista dos que nos rodeiam com
que objectivo? Não serão os mais chegados, os que confiam em nós, dignos de
saber toda a verdade sobre quem somos? Afinal, de que serve deixá-los acreditar
em algo que não é verdade só para gostarem do que não é mais que uma ilusão? O objectivo
não é gostarem pelo que somos?
Os
segredos, quando guardados pelas razões menos certas, e escondidos das pessoas
que mais direito teriam a sabê-los, tendem a estragar ligações quando
descobertos.
A
grande questão com os segredos reside aqui: há verdades capazes de despedaçar
mais do que uma ligação entre pessoas, verdades demasiado horríveis para serem
partilhadas de livre ânimo. A dúvida então coloca-se, somos suficientemente aptos
para decidir o que deve ou não ser contado? Razoáveis ao ponto de escolher se a
verdade deve ou não manter-se escondida, tendo noção de quão gravemente
qualquer das decisões pode afectar os envolvidos?